domingo, 27 de maio de 2012

Pequenos nadas



.
As relações de amizade assumem um papel estruturante e preponderante na vida de todos nós. Porém, muitos doentes crónicos,   sentem dificuldade em integrar-se num grupo, sobretudo em situações em que as suas eventuais limitações possam ser algo de destaque ou atenção por parte dos outros.
Culturalmente, em Portugal existe uma correlação obvia entre comida e amigos, o que por vezes salienta uma fragilidade que queremos manter num plano de maior reserva... Na verdade, não existe uma receita para abordar estes assuntos, o segredo passa por abordar estes assuntos com a necessária naturalidade, tendo também em consideração o que os outros sentem e pensam.
Muitos doentes tendem a ocultar a sua condição deixando nos outros uma margem de incerteza que lhes dá pouca segurança no modo como devem interagir.
Os verdadeiros amigos gostam de nós pelo que somos, e conhecer as nossas limitações poderá ser uma forma de se sentirem mais à vontade na interacção connosco.
Abordar o assunto  de uma forma compreensiva passa por falar abertamente deste tema mostrando disponibilidade para esclarecer todas as duvidas quando os outros manifestarem essa curiosidade, mas tendo a sabedoria necessária para não tornar o assunto o certo da conversação e do convívio.
Quando nos convidam para um "patuscada" não é estranho que nos perguntem o que podemos comer... Caso a refeição seja  num restaurante, haverá certamente na ementa algum prato compatível, se a refeição for em casa de amigos, há sempre possibilidade de levar algo  que possamos comer e partilhar com os demais conviveres.

Às vezes os pequenos detalhes fazem toda a diferença… parece-me particularmente importante, por isso deixar aqui algumas dicas, que não são mais que pequenos nadas que fazem toda a diferença, a todos aqueles que connosco convivem.
- Não insistam com um doente caso não ele não queira comer ou beber algo,
- Não tentem ser policias do doente mesmo quando se apercebem que estão a consumir exageradamente algo que poderá ter efeitos imprevisíveis ( advertir é permitido, mas é muito chato quando alguém está constantemente a reparar no que estamos a comer e como o fazemos)
- Quando um doente começa com dores ou outros sintomas, deve ser-lhe dado o espaço necessário, a supervisão adequada, direccionando a atenção e o tema de conversa para outro ponto. Talvez esta dica seja a mais difícil, mas passo a explicar:
Espaço = significa espaço físico, casa de banho acessível se necessário, com privacidade (meninas, nada de querer fazer companhia, ok?)
Supervisão = Significa estar alerta sem estar sempre a perguntar “estás melhor?”. Estar atento a eventuais situações de desmaio ou de aflição declarada, para as quais seja evidente a necessidade de intervenção médica.
Direccionar a conversa para outro tema = Significa que nestas situações pouco há que os outros possam fazer para ajudar e geralmente o doente pede aquilo de que necessita. Quando se age e foca a conversa e a interacção noutros assuntos, retira-se o foco de atenção do desconforto sentido pelo doente, que passa também a estar mais distraído minimizando o seu próprio desconforto (certamente que já toda a gente se sentiu pior quando alguém lhe disse que estava pálido ou com má cara)
- Aceitar a iniciativa do doente em levar comida feita ou seleccionado por si para um encontro de amigos e provar sem quaisquer preconceitos
- Se o convívio se efectuar em torno de uma refeição, tentar fazer algo com condimentos e ingredientes que uma criança de 2 ou 3 anos pudesse comer sem problemas (churrasco é sempre uma boa ideia, sem pimentas ou picantes)

- Surpreender o amigo doente com pequenos gestos. Tendencialmente os doentes apreciam coisas que apelam à sensibilidade e criatividade sem serem necessariamente muito complexas ou caras,
- Tratar o doente com afectividade alegria e naturalidade não o excluindo e respeitando quando este manifesta indisponibilidade.

Nunca é fácil lidar com uma condição que se desconhece e com sensações que  dificilmente se compreende… mas  ser amigo também  é conhecer a magia do respeito pela diferença e isso por vezes significa conhecer estes pequenos nadas que significam tanto!


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mudanças

Após uma prologada ausência eis-me de volta com a promessa de tentar publicar alguma coisa… sempre que encontre um bocadinho disponível… (esta partilha é sempre um ponto de equilíbrio importante)
Hoje optei por falar-vos um pouco de algo que gera stress e ansiedade e necessariamente afecta o bem estar dos doentes com DII, a forma como lidamos com as mudanças.
Creio já ter reflectido em anteriores momentos a importância de equilíbrio na vida dos doentes com DII. Se isto é verdade, é igualmente verdade que saber dosear e organizar os vários aspectos da nossa vida é complicado e exige uma forte capacidade de gestão do tempo e dos recursos. Quando esta gestão tem que ser feita em conjunto com a aprendizagem de novas tarefas ou adaptação a novos contextos tudo tende a complicar. Dá-se o nome de resiliência à capacidade de adaptação a novos contextos.  Consideram-se mais resilientes os que se adaptam com maior facilidade, e menos, aqueles em que a adaptação à mudança resulta em maior prejuízo pessoal, ou seja, demonstram menor capacidade de adaptação.  
Embora não haja impossíveis, e uma boa dose de humor e relaxamento ajude, é certo que a vivencia de um ou vários processos de mudança simultâneos, não é tarefa fácil, e por vezes, só damos conta da dificuldade quando os outros reparam que andamos com “um ar abatido”.
Descanso a menos, comida fora de horas, à pressa e de qualidade duvidosa, falta de tempo para relaxar…
Não devo ser a única… mas por vezes tenho a sensação que embora durma não consigo verdadeiramente repousar… mantendo-me imersa nas mil e uma tarefas e coisas novas, prioridades, responsabilidades…
A verdade é que quando o desequilíbrio se instala e nos deixamos consumir pelas coisas que não conseguimos controlar os sintomas da doença tornam-se evidentes e impossíveis de dissimular. Depois já vamos atrasados… e tomar medidas exige deixar de lado coisas importantes… exige “desligar a ficha” e assumir que algo ficará por fazer.
Nos dias que correm, com a falta de emprego, tendemos a estar “sempre bem”… mesmo que tal não aconteça; fazemos horas a mais, mesmo que ninguém nos peça; esquecemo-nos de nós, mesmo quando os outros não nos agradecem; deixamos o prazer para gozar no fim  e acabamos por não o fazer… com uma facilidade nunca antes vista! Pensamos por vezes que o importante é agarrar a oportunidade, doa a quem doer (e dói-nos sempre bastante!).
A experiencia mostrou-me ser um erro. Acabamos por deixar que a dor se instale, que o organismo se desregule e passamos a ter um problema, que queríamos ver adormecido, exposto aos olhos dos outros…o que nos dá um estatuto de “fraquinhos” ou “frágeis”. Ao tentarmos proteger-nos, e remediar o mal já instalado, acabamos por estar mais reservados e mais virados para o nosso interior, sem energia nem vontade para ser agradável com os outros. A sensação é de exaustão… acho que todos já passamos por isto! Cheios de culpa e desorientados lá passamos o dia a pensar em soluções possíveis, sem parecer haver nenhuma evidente. A qualidade do descanso é menor, a alegria de poder comer normalmente dissolve-se numa sopa de arroz com cenoura, ou num arroz com peixe pálido e sensaborão… já para não falar na bela maçã cozida.
Os que desconhecem a nossa condição e partilham a nossa hora de almoço, começam a reparar com estranheza… e aí surge a dúvida: Falar da situação com naturalidade ou simplesmente sorrir? Quando se assume a situação sem tabus, a tendência é falar sem reservas, explicando a DII de modo resumido sem grandes complicações. De certo modo, acreditamos que começa a ser bizarro dar a entender aos outros que nunca termos fome, ou não gostarmos de mil e uma coisas que têm a amabilidade de oferecer… “Olha trouxe para o nosso lanche um pastelinho de grão ou feijão”, “hoje fiz uma tarte com natas para comermos de sobremesa”, “prova lá este ou um bolinho (cheio de creme) ai é maravilhoso!”, “Come ao menos uma bolachinha de chocolate… se estás de dieta prova estas com fibras são espectaculares os meus intestinos funcionam que é uma maravilha com isto! Não gostas???”
Se dizemos que não gostamos, somos esquisitos, se dizemos que não nos apetece, insistem porque estamos magros, se estamos de dieta, lá vem a oferta da coisa com fibra, se temos uma doença… “entornou-se o caldo”!
A verdade é que, raro é aquele que compreende que falar do assunto DII de um modo insistente não é agradável e torna-se bastante redutor… É que existe mais em nós que o simples facto de termos uma doença crónica…
Numa tentativa de tentarem encontrar uma explicação para sentirem verdadeiramente pena de nós, as pessoas atacam-nos com perguntas, procurando justificar uma imagem que criaram de termos uma condição de “frágil” ou “incapaz”… numa tentativa de ajudar, sugerem coisas absurdas e soluções mirabolantes (que não damos credibilidade por sabermos da ausência de conhecimento sobre o tema por parte destas pessoas…).  Ao mostrarmos desinteresse deixamos os outros desconfortáveis e parecemos entrar num ciclo complexo que se autoalimenta.
Numa tentativa desesperada de por termo à situação, acabamos por explicar que estamos a ser bem tratados, temos só uns dias mais difíceis, mas tudo passa. Infelizmente com isto ganhamos apenas umas horas, no máximo até ao dia seguinte, altura em que alguém se lembra de perguntar: “ estás melhor?”. Haja paciência!!!
 A verdade é que quem está de fora, não lida bem com o assunto da DII, e quem o vive, não sabe como lidar com quem está de fora.
Lidar com os outros e a opinião dos outros e gerir a quantidade de informação que lhes oferecemos é um desafio adaptativo como qualquer outro. A solução aqui passa simplesmente por ser assertivo e dizer claramente quando não queremos falar sobre isso.
A adaptação implica regras, implica conhecer os limites, implica colocarmos a nossa saúde e bem estar acima dos interesses dos outros, implica saber parar a tempo, implica pedir ajuda e aceitar ser ajudado.
Embora não pareça, respeitar estas regras torna mais fácil a adaptação a processos de mudança… é sempre mais fácil medir os limites e não os ultrapassar do que gerir a adaptação á mudança após ter excedido os limites.
Quando não respeitamos o limite temos facilmente manifestações da DII que nos enfraquecem, obrigando-nos a parar e bloqueando a capacidade de brilhar junto dos outros… seremos vistos como frágeis, com fraca capacidade de resiliência, havendo um sentimento de frustração pela nossa incapacidade de corresponder ás expectativas que gerámos ao ultrapassar barreiras e limites.
Alguém um dia disse-me viver não custa, custa é saber viver… tenho-me apercebido que é capaz de ser verdade!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Triângulo: DII, Ansiedade e Depressão



Nos contos de fadas há sempre uma princesa, um principe, um vilão, muitas borboletas, passarinhos, um cenário edilico e um final feliz. Apesar de ter coisas mais ou menos parecidas, a vida real tem detalhes muito mais complexos. No dias que correm podemos identificar diversos vilões com empregos em cargos políticos, os cenários edilicos existem apenas em alguns lugares perdidos onde a mãe natureza foi pouco transformada pelo homem (no vaso de uma planta boonita la de casa), as borboletas são da traça, os passarinhos são pombos e o final nem sempre é o mais feliz.

Quanto aos principes e às princesas, creio que desapareceram ou então, transformaram-se em pessoas normais com mil e um problemas para resolver e sem tempo para resolver nenhum... sei de alguns principes e princesas que arranjaram como companhia uns problemas que dizem dar umas dores de barriga desgraçadas e passam a vida entre o stress de encontrar uma casa de banho limpa livre, e a tristeza por viverem prisioneiros desse lugar, que de edilico tem muito pouco, chamado casa de banho. Submersos em angustias, dominados pela ansiedade, pelo sentimento de injustiça e preenchidos pela solidão, muitos são os que não resistem ao magnetismo do desespero e desenvolvem situações de ansiedade ou depressão patológicas.

Assim, e a pedido de vários principes e princesas que têm o wc como "melhor companheiro", decidi falar um pouco deste triângulo quase magnético que muitos conhecem de perto, sem perceber ao certo como surge ou funciona.

A notícia de uma doença crónica é encarada com maior ou menor traquilidade pelos diferentes receptores e pelos diferentes intervenientes no caso. Porém, em todos os casos esta noticia é marcante, quer para o doente, quer para os que lhe são mais próximos. Uma menor disponibilidade para compreender, procurar conhecer mais informação e reflectir sobre o real impacto da doença poderá desencadear sentimentos de impotência ("não vale a pena fazer nada... não quero saber") que configuram um periodo maior ou menor de negação da doença. Durante este periodo de negação, os individuos recusam aceitar o que se passa consigo, não tendo qualquer tipo de precaução para que os sintomas não se agravem (é frequente haver recusa da medicação e abusos na alimentação que fariam mal até a alguém saudavel).... Em muitos casos, assiste-se a um agravamento da doença, que poderá arrastar consigo uma maior carga emocional, resultando por sua vez, como um factor de influencia negativa no estado clínico dos doentes. A depressão não é só um estado de apatia, tristeza, vontade de não ver ninguém ou  dificuldade em levantar-se da cama... todos nós temos dias assim, sem que tal signifique um quadro depressivo patológico (geralmente chamo-lhe mau humor ou perguicite aguda). A depressão (doença) prolonga-se no tempo e generaliza-se a todos os aspectos da vida. A depressão poderá ter diferentes origens, surgir como reacção a um determinado acontecimento, como reflexo de um desequilibrio hormonal, pela falta de luz (muito comum nos países do norte)... instalando-se de forma mais ou menos prolongada e com maior ou menor intensidade.

É fundamental não querer fazer "colecção de maleitas", já basta ter DII, não queiramos ser também rotulados de deprimidos... é normal estar triste e é normal não saber lidar com uma nova condição e realidade, que ao fim e ao cabo se reflecte em muitas áreas da nossa vida, tornando presente um tema que todos queremos esconder e disfarçar com doses generosas de ambientador (o cócó).
Há no entanto, doentes que demosntram maior dificuldade em adaptar-se ao diagnóstico vindo a desenvolver quadros depressivos, muitas vezes, por associação a outros acontecimentos de vida, ausencia ou mau funcionamento da rede de suporte emocional (os que são mais próximos), dificuldades verificadas ao nível do funcionamento "psicológico"(fraca resistencia á frustração, dificuldades de adaptação a situações novas, dificuldades na mobilização de recursos ou criação de estratégias de resolução de problemas) ou ainda problemas hormonais ou nutricionais.

Poderia dizer que apesar do confronto com a notícia de uma doença crónica, ser um motivo com algum relevo, que poderá induzir estados depressivos de acordo com a intensidade/ impacto da doença percepcionado pelo doente, cada caso é um caso e não se desenvolve necessáriamente uma depressão pelo confronto com o diagnóstico, nem com a vivência das privações e intenso desconforto trazido pelas fases activas da doença.
Importa também distinguir fases activas da doença e sintomatologia típica dos doentes. Segundo o meu médico me explicou, existe uma diferença substancial. Fase activa da doença é caracterizada por um conjunto de sintomas agudos típicos de uma inflamação séria, com maior ou menor gravidade de acordo com o grau e extensão da doença.  No caso da colite ulcerosa: muco e/ ou sangue nas fezes, cólicas intensas, diarreia durante mais de três dias, febre; no caso da doença de crohn: diarreias prolongadas, sangue nas fezes, prisão de ventre, febre, cólicas, vómitos. Sempre que estes sintomas se verificam deve ser consultado o médico para ser efectuado o diagnostico e tratamento conveniente. Porém, os doentes com DII têm um aparelho digestivo mais frágil e sensivel que a maioria das pessoas, e poderão ocorrer episódios inflamatórios mais ligeiros, que não significam necessáriamente que a doença está activa. Daí ser fundamental ter calma e tomar algumas percauções para não confundir as coisas, consultar o médico sempre que necessário, mas sem pânicos, porque tudo tem solução.
Falando em ansiedade, a experiência tem-me vido a mostrar que os doentes com DII são na generalidade pessoas mais vulneraveis à ansiedade. O stress agrava os sintomas da doença, podendo mesmo despertá-la quando esta se encontra numa fase adormecida. Por outro lado, os sintomas da doença causam desespero, stress e ansiedade. Parece assim que quanto mais activa está a doença maior a vulnerabilidade para o  desenvolvimento de quadros depressivos e anciosos, do mesmo modo que a anciedade e a depressão tornam os individuos mais vulneraveis à actividade da doença.
 Embora nem todas as pessoas manifestem ansiedade nos mesmos momentos,  os estados de ansiedade revelam-se muito frequentes (surgindo muito associados ao receio do julgamento social é à protecção da autoimagem). Há vários truques que permitem controlar a ansiedade e combater o stress, sem que haja necessidade do recurso a mais medicação. Na minha opinião os psicofarmacos (ansióliticos e antidepressivos) são excessivamente prescritos  pela classe médica, não havendo consciencia por parte do doente que funcionam como substitudos das suas capacidades cognitivas. Tal como um elevador nos leva rapidamente ao topo ou à base de um edificio, estes medicamentos mascaram a realidade tornando-a suportável. Porém, se faltar a luz e não soubermos subir ou descer escadas, porque não nos habituamos a fazê-lo, ficaremos numa situação mais vulnerável. O mesmo acontece quando mascaramos a realidade e nos "desabituamos" de pensar e encontrar soluções para enfrentar os desafios que a vida nos impõe. devo no entanto concordar que em situações de emergencia o uso dos psicofarmacos é muito importante, na medida em que permite estabilizar o doente. A semelhança do elevador em que o uso pode ser vital  pela sua velocidade (em casos de neessidade urgente mais vale usar o elevador do que "fazer nas calças"). Porém este uso deve ser vigiado e acompanhado de algum "exercicio", ou seja não se deve urar sempre e só. Tal como o uso das escadas também melhora o desmpenho cardiovascular e a celulite, a "ginastica" mental previne as doenças da idade (demencias) e melhora a nossa criatividade, ao mesmo tempo que nos ajuda a resolver mais facilmente outros problemas.  Tal como com o treino das escadas o treino da cabeça faz-nos ser mais rapidos resistentes gastando menos energia para desempenhar a tarefa.
Embora seja muito redutor falar do triângulo depressão, ansiedade e DII neste texto, creio que o mais importante a reter é que todos os casos são diferentes mas para todos existe solução, que passa necessáriamente pela aquisição de maior flexibilidade cognitiva (maior capacidade de relativizar o que é mau, focando o pensamento na resolução do problema) e hábitos de vida saudaveis. Funcionando numa lógica de saúde integrada, em que o centro da nossa vida não é o intestino, mas todo o nosso corpo e mente, não faz qualquer sentido imaginar doenças que não estão diagnosticadas e viver prisioneiro do medo que alguma doença surja. A preservação da saúde deverá ser desprovida de preocupações excessivas, existindo como um conjunto de gestos que nos habituamos a ter sem pensar muito (tal como lavar as mãos ou os dentes em que quando fazemos não estamos a pensar para que serve). Podemos cometer excessos de vez em quando como qualquer pessoa normal, desde que o excesso não se torne um hábito. Acima de tudo a conquista mais importante, é sem duvida, o "equilibrio".

Notas de Humor ;)

 De entre as centenas de e-mails que recebo com coisas engraçadas e bem humuradas, escolhi este... sobretudo pelo tema, pois considero da maior importaância conseguirmos rir daquilo que nos atormenta! Peço perdão aos mais sensíveis, farei o possível por suavizar a linguagem usada no texto original.

Agora tentem ficar sérios e não rir.... eu não consegui. Já li mais de 10 vezes o texto e acho sempre piada!

Imaginem a cena...

Um miúdo estava a brincar no apartamento com um balão de festa de anos.
Chutava para cá, chutava para lá, até que o balão acabou por entrar na casa de banho e foi cair justamente dentro da retrete.

Ele chegou, espreitou lá para dentro, viu o balão molhado, ficou com nojo e deixou-o ali mesmo.

Pouco tempo depois, o seu pai entrou apressado para se 'desocupar' e sentou-se sem notar o balão. O almoço tinha sido muito pesado, e após ficar bem aliviado, olhou como era hábito, para dentro da retrete e ficou horrorizado com o espectáculo.

As suas fezes, muito moles, tinham coberto o balão e a impressão que se tinha era de um imenso, um absurdo, um gigantesco bolo fecal !

Sem acreditar naquilo, começou a ficar muito branco, e dali mesmo ligou pelo telemóvel, para um seu amigo que era médico:

- Cardoso, acho que devo estar com algum problema sério !

- Enchi a retrete de cáca. Nunca vi tanta assim na minha vida!... está quase a extravasar!

- Oh Anselmo, com certeza que estás a exagerar!

- Qual exagero, qual quê !!! Estou na casa de banho a olhar para este 'merdel' todo, agora!

- Isto é um absurdo!

- Estou muito doente!!!

- Bom, eu já estava de saída do consultório. Aproveito e passo aí que é a caminhode minha casa!


O médico chega e vai directo ao amigo, que estava à espera à porta dacasa de banho.

- Olá, Anselmo, ora vamos lá ver isso que vo............ CÉUS!!! O que é isto???Que é que tu comeste, criatura???

- Eu não disse?! Agora acreditas?!

- Isto é incrível !

- Então, será que tenho algum problema sério?!

- Olha, o melhor é levar uma amostra disto e mandar para análise!

O médico saca de uma pequena espátula e um frasco esterilizado da sua maleta e quando espeta o 'bolo' para retirar uma amostra do material...........

BUMMM!!!!!!!!!! ! O balão estoura e voa trampa para todo o lado !

Seguem-se instantes de absoluto silêncio.

Os dois amigos, completamente cagados, olham-se.

Estupefacto, o médico berra:

- Raios partam isto !!!! Achava eu, em 30 anos de medicina que já tinha visto de tudo, mas um peido com casca. NUNCA !!!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

DII no feminino



A condição feminina tem algumas particularidades que frequentemente influenciam a vivencia da DII. Características como a maior influência do stress, alterações de humor ou uma certa dose de intransigência são genericamente atribuídas às mulheres pelos homens e salientadas como aspectos negativos da nossa natureza.

A verdade é que as alterações hormonais são manifestamente maiores nas mulheres do que nos homens. Estas variações hormonais são frequentemente responsáveis por alguma instabilidade emocional e maior vulnerabilidade ao stress. Sabe-se hoje, que as oscilações hormonais podem influenciar negativamente a DII, quando esta se encontra numa fase activa. Por outro lado, a inflamação causada pela actividade da doença, pode implicar igualmente, alterações hormonais que provocam, por vezes, modificações no ciclo menstrual. Acrescendo a tudo isto o facto de o stress ser ter um efeito muito negativo sobre a doença, podemos dizer que a condição feminina pode implicar uma maior vulnerabilidade aos sintomas da DII.
 
Na semana que antecede a menstruação, e durante o período menstrual é frequente sentir que os sintomas da DII se agravam, sendo da maior importância perceber se estes sintomas estão relacionados com o ciclo menstrual, ou se significam de facto um agravamento da doença.
 
«Uns dias antes da menstruação, parecemos dignas de uma determinação quase heróica que nos leva a ter uma compulsão por libertar a secretária de trabalho, e limpar a casa de todo o lixo e bugigangas que acumulamos. Quem nunca reparou que nesses dias nos surge muitas vezes uma vontade, sem sentido, de livrar a carteira dos mil e um talões de compras que lá ficam esquecidos? Já com a companhia de alguma impaciência, "lá vamos andado" sem particular entusiasmo pelos disparates dos outros (já se começam a formar as nuvens no horizonte que adivinham a tempestade dos dias seguintes).

Depois... quem não conhece aqueles dias em que tudo parece conspirar contra nós, numa articulação perfeita de má sorte?

A paciência que já se adivinhava menor com o toque do despertador, piora com a pressa intestinal, que nos faz saltar da cama subitamente, e esgota-se na indecisão do que vestir... A barriga dói e a dor parece espalhar-se pelos rins, pelas pernas e irradiar até à cabeça... Ai!... É então que olhamos para o relógio e vemos que estamos atrasadas, com tudo isto, não sabemos da chave ...

O dia começa assim... e ainda não saímos de casa... resmungamos e sopramos para tentar aliviar...

Se alguém ousar, dizer uma só palavra sobre o nosso "mau feitio", ou sobre a adolescência tardia expressa numa borbulha lindíssima que se perfila no meio da nossa cara, terá no mínimo, a sorte de ser atropelado por um berro bem alto!... e o dia continua... sempre repleto de peripécias bizarras que nos fazem acreditar que "há dias em que não devíamos sair da cama!"»
 
Este enigma tem-me acompanhado ao longo da vida, e entre as mil e uma estratégias que experimentei para melhorar a situação, consegui encontrar um conjunto que parece ter resultados muito positivos.

As dores abdominais parecem melhorar muito com a prática desportiva. Não consigo explicar a relação directa, porém verifico que nos meses em que pratico regularmente exercício físico, as dores menstruais são muito mais ligeiras. Apesar de não melhorar as dores que se fazem sentir, tenho verificado que ter os pés frios agrava bastante o desconforto.
 
Alguns médicos defendem que a toma de um anti-inflamatório nos dias que antecedem o período menstrual faz com que os sintomas diminuam, porém, todas as situações devem ser avaliadas por especialistas e eu não sou muito fã da medicação se houver outras soluções que possam, pelo menos, reduzir a dosagem medicamentosa.
 
Relativamente ao intestino apressado na semana anterior e durante o período menstrual, muitas mulheres têm a sensação de que comeram uma mousse de chocolate inteirinha todos os dias... para melhorar esta situação, opto por comer alimentos cozinhados de forma mais simples, com menos gordura, açucares e fibras insolúveis. Não sendo uma dieta muito rigorosa, manter algum cuidado com a alimentação nestes dias pode aliviar o desconforto intestinal.
As mulheres que tomam contraceptivos hormonais têm aqui a melhor de todas as estratégias. Regular o contraceptivo de modo a que o primeiro dia do período menstrual seja o Sábado. Assim, podemos mesmo ficar por casa, sem vestir nada apertado e não chegamos atrasadas ao trabalho, não é fantástico?!

Relativamente aos métodos contraceptivos hormonais de toma oral, mantive durante algum tempo dúvidas relativamente ao efeito dos mesmos na DII e da DII na sua eficácia e segurança. O facto é que a frequente ocorrência de diarreias pode comprometer a absorção dos comprimidos. Embora a toma da pílula se mostre segura na Colite Ulcerosa, não está totalmente comprovado contributo para o agravamento da Doença de Crohn. Apesar de considerar que todos os casos devem sempre obter o melhor aconselhamento junto do médico assistente, não é demais lembrar que actualmente existem terapêuticas contraceptivas hormonais com igual eficácia à da pílula sob a forma de anel, adesivo ou implante, cuja segurança parece ser maior nos casos de DII.

Voltando a falar "daqueles dias do mês", já repararam que transpiramos mais e que o nosso suor tem um cheiro mais forte nestes dias? A solução passa por dois pontos fundamentais: higiene e alimentação. Quanto á higiene nem é preciso dizer nada porque todas sabemos quanto um banho quente consegue ser a única coisa que corre bem nestes dias (ás vezes a "conspiração cósmica" faz acabar a água ou o gás a meio, cuidado). Relativamente á alimentação, devemos evitar comer cebola (ceboladas, escabeches, saladas com cebola crua, etc) e alho durante estes dias uma vez que a sua ingestão intensifica o odor desagradável do suor.

Embora se transpire mais, uma menos actividade e maior sensação de cansaço e fraqueza durante e imediatamente após o período menstrual é muito frequente. Ficamos mais vulneráveis a constipações e outras doenças que quando surgem antes parecem agravar-se durante estes dias... Tudo isto se deve ao processo da menstruação, como sempre, a solução passa por respeitar o corpo, hidratar convenientemente, resguardar-nos das diferenças bruscas de temperatura e ambientes fechados com muita gente... O descanso e a alimentação rica em vitaminas e ferro revestem-se de particular importância. os esforços excessivos devem ser evitados e privilegiados os períodos de descanso e repouso.

Nas mulheres mais vulneráveis aos "ataques hormonais" é frequente sentir uma profunda angustia injustificada, sentimentos de incompetência, insegurança e solidão. Identificar os sintomas limitando-os ao que os motiva, poderá ajudar a conviver melhor com os "picos" emocionais/ hormonais. Não nos podemos esquecer que um dia pode melhorar quando o fazemos acabar mais cedo, tentar chegar cedo a casa e dormir cedo pode ser uma importante estratégia.

Os que nos são mais próximos devem ser informados da nossa maior fragilidade para adaptarem o seu nível de exigências e tolerância relativamente a nós... quando regulamos o inicio da menstruação com o fim de semana podemos sempre garantir o nosso refugio libertando os que nos são próximos para actividades que gostam e nas quais a nossa interacção/ intervenção não é determinante ( jogar playstation, sair com amigos, visitar alguém, ver um filme).

A condição feminina tem características especiais que exigem uma maior sensibilidade e intuição... Aspectos que os homens sabem reconhecer, valorizar e apreciar. Os mistérios da nossa natureza tornam-nos diferentes... Como não nascemos com um manual de instruções, a nossa ferramenta mais preciosa é o autoconhecimento, pois só reconhecendo a "voz" do funcionamento do nosso corpo, podemos encontrar soluções simples para o desconforto que nos perturba.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Suplementos vitaminicos: Amigos ou inimigos?


Este ano de calor invulgar para a época, tem trazido consequências pouco agradáveis a todos. A vivência de fortes amplitudes térmicas e a intensidade solar faz-nos sentir mais cansados e fracos. Por outro lado, as temperaturas elevadas fizeram com que as verduras e os frutos se desenvolvessem rápida e precocemente com prejuízo da sua qualidade e nutrientes.  
De modo a solucionar o cansaço e a anunciada falta de vitaminas muitos são aqueles que optam pela toma de suplementos multivitaminicos, sem prescrição médica.
Hoje na imprensa foi divulgado um estudo sobre os efeitos negativos da toma generalizada deste tipo de substancias (estudo), onde a mensagem mais importante a reter é "não há qualquer beneficio na toma deste tipo de suplementos quando o organismo não apresenta carências  nutricionais".
As evidencias de que o melhor para a saúde passa pela alimentação, exercício e descanso equilibrados  são conhecidas de todos nós, mas nem sempre muito simples de conseguir pôr em prática.
Os produtos biológicos prometem ser uma alternativa alimentar mais saudável, mas são caros e, apesar de serem vendidos como tal, ninguém nos consegue garantir a total isenção do uso de fertilizantes sintéticos ou pesticidas no cultivo dos mesmos. Uma importante ajuda parece estar na planificação das refeições. Decidir o que comer com antecedencia, planificando refeições para a semana toda, nas quais se priviligia a escolha de alimentos frescos típicos da época, permite dispor de mais tempo livre, equilibrar a ingestão de nutrientes e poupar algum dinheiro.
Quando o cansaço começar a manifestar-se excessivamente e a sensação de vulnerabilidade se instalar, nada melhor do que consultar um médico e fazer análises antes de começar a tomar qualquer suplemento. Para desempenhos saudáveis e normais não devemos ambicionar viver acima dos nossos limites,  a meu ver, só faz sentido suplementar a nossa nutrição quando clinicamente se comprova essa necessidade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Agarra o Teu Sonho


 A APDI em com o apoio da Abbott e do Diário de Notícias editou um livro que será de grande interesse para todos os que convivem (de perto, ou de longe) com a doença inflamatória do intestino.
 Este livro será distribuido com a edição do dia 7 de Outubro do Diário de Notícias, por apenas +2,99€. Por cada unidade vendida, 1 euro reverterá a favor da APDI.

Sugiro a compra de mais que um exemplar, pois poderá ser uma excelente oferta (o natal não está assim tão longe!!)