sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Triângulo: DII, Ansiedade e Depressão



Nos contos de fadas há sempre uma princesa, um principe, um vilão, muitas borboletas, passarinhos, um cenário edilico e um final feliz. Apesar de ter coisas mais ou menos parecidas, a vida real tem detalhes muito mais complexos. No dias que correm podemos identificar diversos vilões com empregos em cargos políticos, os cenários edilicos existem apenas em alguns lugares perdidos onde a mãe natureza foi pouco transformada pelo homem (no vaso de uma planta boonita la de casa), as borboletas são da traça, os passarinhos são pombos e o final nem sempre é o mais feliz.

Quanto aos principes e às princesas, creio que desapareceram ou então, transformaram-se em pessoas normais com mil e um problemas para resolver e sem tempo para resolver nenhum... sei de alguns principes e princesas que arranjaram como companhia uns problemas que dizem dar umas dores de barriga desgraçadas e passam a vida entre o stress de encontrar uma casa de banho limpa livre, e a tristeza por viverem prisioneiros desse lugar, que de edilico tem muito pouco, chamado casa de banho. Submersos em angustias, dominados pela ansiedade, pelo sentimento de injustiça e preenchidos pela solidão, muitos são os que não resistem ao magnetismo do desespero e desenvolvem situações de ansiedade ou depressão patológicas.

Assim, e a pedido de vários principes e princesas que têm o wc como "melhor companheiro", decidi falar um pouco deste triângulo quase magnético que muitos conhecem de perto, sem perceber ao certo como surge ou funciona.

A notícia de uma doença crónica é encarada com maior ou menor traquilidade pelos diferentes receptores e pelos diferentes intervenientes no caso. Porém, em todos os casos esta noticia é marcante, quer para o doente, quer para os que lhe são mais próximos. Uma menor disponibilidade para compreender, procurar conhecer mais informação e reflectir sobre o real impacto da doença poderá desencadear sentimentos de impotência ("não vale a pena fazer nada... não quero saber") que configuram um periodo maior ou menor de negação da doença. Durante este periodo de negação, os individuos recusam aceitar o que se passa consigo, não tendo qualquer tipo de precaução para que os sintomas não se agravem (é frequente haver recusa da medicação e abusos na alimentação que fariam mal até a alguém saudavel).... Em muitos casos, assiste-se a um agravamento da doença, que poderá arrastar consigo uma maior carga emocional, resultando por sua vez, como um factor de influencia negativa no estado clínico dos doentes. A depressão não é só um estado de apatia, tristeza, vontade de não ver ninguém ou  dificuldade em levantar-se da cama... todos nós temos dias assim, sem que tal signifique um quadro depressivo patológico (geralmente chamo-lhe mau humor ou perguicite aguda). A depressão (doença) prolonga-se no tempo e generaliza-se a todos os aspectos da vida. A depressão poderá ter diferentes origens, surgir como reacção a um determinado acontecimento, como reflexo de um desequilibrio hormonal, pela falta de luz (muito comum nos países do norte)... instalando-se de forma mais ou menos prolongada e com maior ou menor intensidade.

É fundamental não querer fazer "colecção de maleitas", já basta ter DII, não queiramos ser também rotulados de deprimidos... é normal estar triste e é normal não saber lidar com uma nova condição e realidade, que ao fim e ao cabo se reflecte em muitas áreas da nossa vida, tornando presente um tema que todos queremos esconder e disfarçar com doses generosas de ambientador (o cócó).
Há no entanto, doentes que demosntram maior dificuldade em adaptar-se ao diagnóstico vindo a desenvolver quadros depressivos, muitas vezes, por associação a outros acontecimentos de vida, ausencia ou mau funcionamento da rede de suporte emocional (os que são mais próximos), dificuldades verificadas ao nível do funcionamento "psicológico"(fraca resistencia á frustração, dificuldades de adaptação a situações novas, dificuldades na mobilização de recursos ou criação de estratégias de resolução de problemas) ou ainda problemas hormonais ou nutricionais.

Poderia dizer que apesar do confronto com a notícia de uma doença crónica, ser um motivo com algum relevo, que poderá induzir estados depressivos de acordo com a intensidade/ impacto da doença percepcionado pelo doente, cada caso é um caso e não se desenvolve necessáriamente uma depressão pelo confronto com o diagnóstico, nem com a vivência das privações e intenso desconforto trazido pelas fases activas da doença.
Importa também distinguir fases activas da doença e sintomatologia típica dos doentes. Segundo o meu médico me explicou, existe uma diferença substancial. Fase activa da doença é caracterizada por um conjunto de sintomas agudos típicos de uma inflamação séria, com maior ou menor gravidade de acordo com o grau e extensão da doença.  No caso da colite ulcerosa: muco e/ ou sangue nas fezes, cólicas intensas, diarreia durante mais de três dias, febre; no caso da doença de crohn: diarreias prolongadas, sangue nas fezes, prisão de ventre, febre, cólicas, vómitos. Sempre que estes sintomas se verificam deve ser consultado o médico para ser efectuado o diagnostico e tratamento conveniente. Porém, os doentes com DII têm um aparelho digestivo mais frágil e sensivel que a maioria das pessoas, e poderão ocorrer episódios inflamatórios mais ligeiros, que não significam necessáriamente que a doença está activa. Daí ser fundamental ter calma e tomar algumas percauções para não confundir as coisas, consultar o médico sempre que necessário, mas sem pânicos, porque tudo tem solução.
Falando em ansiedade, a experiência tem-me vido a mostrar que os doentes com DII são na generalidade pessoas mais vulneraveis à ansiedade. O stress agrava os sintomas da doença, podendo mesmo despertá-la quando esta se encontra numa fase adormecida. Por outro lado, os sintomas da doença causam desespero, stress e ansiedade. Parece assim que quanto mais activa está a doença maior a vulnerabilidade para o  desenvolvimento de quadros depressivos e anciosos, do mesmo modo que a anciedade e a depressão tornam os individuos mais vulneraveis à actividade da doença.
 Embora nem todas as pessoas manifestem ansiedade nos mesmos momentos,  os estados de ansiedade revelam-se muito frequentes (surgindo muito associados ao receio do julgamento social é à protecção da autoimagem). Há vários truques que permitem controlar a ansiedade e combater o stress, sem que haja necessidade do recurso a mais medicação. Na minha opinião os psicofarmacos (ansióliticos e antidepressivos) são excessivamente prescritos  pela classe médica, não havendo consciencia por parte do doente que funcionam como substitudos das suas capacidades cognitivas. Tal como um elevador nos leva rapidamente ao topo ou à base de um edificio, estes medicamentos mascaram a realidade tornando-a suportável. Porém, se faltar a luz e não soubermos subir ou descer escadas, porque não nos habituamos a fazê-lo, ficaremos numa situação mais vulnerável. O mesmo acontece quando mascaramos a realidade e nos "desabituamos" de pensar e encontrar soluções para enfrentar os desafios que a vida nos impõe. devo no entanto concordar que em situações de emergencia o uso dos psicofarmacos é muito importante, na medida em que permite estabilizar o doente. A semelhança do elevador em que o uso pode ser vital  pela sua velocidade (em casos de neessidade urgente mais vale usar o elevador do que "fazer nas calças"). Porém este uso deve ser vigiado e acompanhado de algum "exercicio", ou seja não se deve urar sempre e só. Tal como o uso das escadas também melhora o desmpenho cardiovascular e a celulite, a "ginastica" mental previne as doenças da idade (demencias) e melhora a nossa criatividade, ao mesmo tempo que nos ajuda a resolver mais facilmente outros problemas.  Tal como com o treino das escadas o treino da cabeça faz-nos ser mais rapidos resistentes gastando menos energia para desempenhar a tarefa.
Embora seja muito redutor falar do triângulo depressão, ansiedade e DII neste texto, creio que o mais importante a reter é que todos os casos são diferentes mas para todos existe solução, que passa necessáriamente pela aquisição de maior flexibilidade cognitiva (maior capacidade de relativizar o que é mau, focando o pensamento na resolução do problema) e hábitos de vida saudaveis. Funcionando numa lógica de saúde integrada, em que o centro da nossa vida não é o intestino, mas todo o nosso corpo e mente, não faz qualquer sentido imaginar doenças que não estão diagnosticadas e viver prisioneiro do medo que alguma doença surja. A preservação da saúde deverá ser desprovida de preocupações excessivas, existindo como um conjunto de gestos que nos habituamos a ter sem pensar muito (tal como lavar as mãos ou os dentes em que quando fazemos não estamos a pensar para que serve). Podemos cometer excessos de vez em quando como qualquer pessoa normal, desde que o excesso não se torne um hábito. Acima de tudo a conquista mais importante, é sem duvida, o "equilibrio".

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