terça-feira, 12 de julho de 2011

Era uma vez...

... Uma menina curiosa e muito engraçada que gostava de brincar com os amigos e explorar o mundo. A sua saúde nem sempre colaborava e ficava frequentemente engripada. Os diversos antibióticos que tomou durante a infância começaram a fazer estragos... As diarreias frequentes deixavam-na com menos energia e progressivamente mais tímida e envergonhada. Os alimentos com mais fibras ou causadores de maior flatulência e o chocolate, começaram a ser menos bem tolerados, sobretudo quando o stress também era mais intenso... Começava a surgir o medo de ter uma diarreia no meio de uma avaliação escolar, de uma viagem ou de um espectáculo.... A ansiedade aumentava estes episódios de "dor de barriga" e o peso de não deixar ninguém perceber, dificultava tudo ainda mais.

Pela altura da entrada na faculdade esta  menina tinha por vezes a sensação de se transformar num intestino gigante, que ocultava toda a sua personalidade. Após uma consulta com o medico do costume e umas analises ao sangue, o diagnostico foi simples : "É psicossomático".

Esconder esta situação tornava-se cada vez mais difícil. Muitos foram convites dos amigos recusados por vergonha de poder ter um episódio de visita urgente ao WC.

Algum tempo mais tarde, a preocupação dos pais levou a que a menina fosse a um especialista que passou uns exames e uns medicamentos, dizendo tratar-se do sindrome do colon irritável. Com o efeito dos medicamentos a sua vida melhorou e apesar de continuar a ser frequente ter o intestino "avariado", a menina atribuia estes episódios ao stress ou a coisas que comia. Foi a manutenção de episódios de perda de sangue nas fezes que quebrou o tabu, levando a que a menina confidenciasse a um enfermeiro amigo o que se passava. Um especialista, várias analises e exames mais tarde... confirmou-se o diagnóstico de uma doença crónica: Doença Inflamatória do Intestino - Colite Ulcerosa.

Afinal não estava louca como pensava...
O primeiro impacto foi positivo. O diagnóstico permitia identificar o problema e acreditar que o tratamento iria ajudar a melhorar, o que realmente aconteceu.  Porém, demorou muito tempo até conseguir partilhar com os amigos mais chegados esta situação... e ainda mais para conseguir acreditar ser mais forte que a doença.

Hoje, esta menina, já mulher, procura manter-se informada e disponível para aprender a lidar da melhor forma com os dias mais negros, e consegue brincar com a doença nos dias mais claros. Conhecer pessoas com DII, com experiências semelhantes e outras piores, quebrou a sensação de isolamento e mostrou que, viver com este problema é um desafio que se alimenta de um processo de degustação constante dos prazeres e aprendizagens que a vida nos proporciona.

1 comentário:

  1. Fico feliz por esta menina ter decidido finalmente enfrentar o seu "demónio interior", e assumir o seu problema, a sua doença. E mais feliz fico por ter encontrado um grupo de pessoas que partilha o mesmo problema. Talvez assim a menina possa pôr de uma vez por todas os seus constrangimentos sociais para trás das costas. A menina merece.

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