sexta-feira, 22 de julho de 2011

O herói torturador

A ida ao médico é sempre um momento repleto de grande expectativa e esperança. Por mais, que tentemos encarar a visita ao médico como parte da nossa rotina, a verdade é que ao entrar naquele gabinete levamos sempre a esperança de que nos seja concertado o desconforto ou que seja confirmado o nosso bom estado de saúde, mas nem sempre isto acontece... 

Por vezes a nossa incapacidade para explicar devidamente o que sentimos, ou as dúvidas levantadas pelos sintomas apresentados, fazem-nos ir embora com grandes interrogações na cabeça e algumas requisições para exames no bolso. A desilusão não espera por aparecer, e no fundo da nossa cabeça rogamos pragas à vida por sairmos daquele lugar com um problema para resolver.

Os dias que se seguem transportam uma dose constante de ansiedade e sem nos darmos conta, acabamos a tentar adivinhar o que se passa connosco e a cultivar medos, dúvidas e angustias com o mesmo carinho que faríamos com uma planta bela e rara. O médico, que até esse dia estava arrumado na nossa cabeça dentro da gaveta dos heróis, vai passar férias para a gaveta dos incompetentes, dos torturadores...

Por vezes, acontece termos também a sensação de falar chinês... aquelas frases feitas como "isso é a sua cabeça a trabalhar mais depressa que a barriga" ou "não deve evitar fazer nada, tem que comer de tudo e levar uma vida normal, não seja piegas", doiem mais que murros no estômago, confesso que penso logo "estás a dizer isto porque não és tu a sentir as dores e o desconforto, talvez te fizesse bem sentir!". 

Na verdade não é fácil para os médicos compreender a agitação interna de quem se treinou ao longo do tempo para tolerar uma dose considerável de desconforto, com uma aparecia exterior de tranquilidade e normalidade. Um dos professores que mais me influenciou, chamava a esta capacidade "teoria do pato" - quando o vemos a deslizar sobre a água tranquilamente, não temos noção da agitação das suas patas no interior do lago.Tal não significa que tenhamos que encenar um mal estar intolerável, mas mostra-se útil fazer algum tipo de registo daquilo que nos aflige (frequência, grau de desconforto, tipo de dor e local da mesma).Habitualmente tenho um caderninho do bizarro para fazer estas anotações, mas nas aturas em que me sinto pior, registo em tabelas como a que se encontra abaixo (coisas como: a que horas ingiro o quê, episódios de dor, idas ao WC, nível de stress ou ansiedade e tomas de medicação). Apesar de parecer algo bastante obsessivo, estes registos ajudam-me a reeducar os meus hábitos e a distinguir o que é fruto do meu comportamento ou stress e o que não é controlável por mim. Ao encontrar um padrão (sempre que faço isto, sucede aquilo), posso apresentar ao meu médico queixas e dúvidas mais concretas, e assim facilitar o seu trabalho, levando-o a compreender melhor a minha "agitação interior".



Sáb.
Dom.
Horas



















Horas




















Infelizmente, a medicina não tem ainda solução para tudo, mas tem já muitos meios que nos podem proporcionar uma vida praticamente isenta de males maiores. O médico que nos assiste não consegue adivinhar tudo, até porque muitas maleitas apresentam sintomas semelhantes, porém, ele é sem dúvida, a pessoa mais habilitada para nos ajudar a tratar das nossas queixas. As visitas ao médico devem ser regulares, com uma periodicidade determinada por este técnico de acordo com a nossa condição de saúde. Devemos ter o cuidado de transmitir a informação de um modo claro e transparente, tendo em conta que nesta relação o medico é quem conhece os fármacos mais adequados para cuidar do nosso problema. Pedir uma segunda opinião, pode revelar-se adequado sempre que nos surjam duvidas quanto ás decisões clínicas  ou diagnósticos efectuados, porém, o médico que nos segue deve merecer a nossa confiança pois só deste modo poderemos alcançar algum sucesso terapêutico.

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